Todos os anos, com a chegada da primavera, os Açores assistem ao aparecimento de muitas caravelas portuguesas (Physalia physalis). Apesar de ser a espécie mais venenosa que poderá encontrar no arquipélago, não se preocupe. Nas nossas viagens de observação de cetáceos estará em total segurança. Por vezes as pessoas confundem a caravela portuguesa com alforrecas (à qual chamamos “água viva” nos Açores). Mas a única coisa que têm em comum é o facto de possuir longos tentáculos. Vejamos então quais são as principais caraterísticas da caravela.
O que caracteriza a caravela portuguesa?
Ao contrário do que muitos pensam a caravela não é um único organismo. É sim composta por um conjunto de 4 tipos de organismos que trabalham em conjunto para garantir a sua sobrevivência. A estes organismos damos o nome de pólipos ou zooides. A caravela portuguesa (Physalia physalis) pode ser classificada como uma colónia de organismos que, apesar de diferentes, partilham o mesmo ADN entre si.

Esta espécie é invertebrada e carnívora. Cada um destes quatro tipos de pólipos são únicos nas caravelas portuguesas e cada um possui funções específicas.
As caravelas, ao contrário das alforrecas, não conseguem nadar. Por isto um dos pólipos é responsável por se encher com gás, formando uma espécie de vesícula à superfície que funciona como uma vela. Esta vesícula pode atingir 30cm de comprimento e 15cm de altura.
Uma vez que a caravela não nada e apenas é transportada pelo vento e correntes, podem ser muitas vezes encontradas junto à costa (praias e zonas de calhau).
Por isso tenha cuidado… quando vir algo na praia com coloração rosa, violeta e um azul intenso com um brilho espelhado ou um aspeto gelatinoso, não lhe toque!

Dactilozoóides (captura das presas)
As caravelas navegam com a corrente e dependem do poder de atração para se poderem alimentar. Elas apanham pequenos peixes e organismos que se aproximam dos seus tentáculos. É através do veneno nestes tentáculos que conseguem imobilizar e matar as suas presas. Estes tentáculos são de tonalidade azul escura, enrolados e podem expandir-se e atingir até 50 metros de comprimento!
Gastrozoóides (digestão)
O sistema digestivo da caravela é transparente e consegue-se observar este pólipo em ação a digerir as suas refeições. Os nutrientes são depois distribuídos com os restantes pólipos.
Gonozoóides (reprodução)
Cada organismo individual da caravela, isto é, cada pólipo, é unissexual munido por um gonozoide (órgão responsável pela reprodução) podendo conter ovário ou testículos. E sabia que todos os organismo da mesma caravela são do mesmo sexo? É incrível a organização e complexidade de uma caravela portuguesa. Quando prontos para a reprodução os óvulos/esperma são libertados par ao meio ambiente. Esta é uma tentativa de fertilizar os ovos e gerar pequenas larvas dos diferentes pólipos que formam uma caravela.

Porque se chama caravela portuguesa?
O pneumatóforo (organismo responsável pela navegação) assemelha-se a à vela existente nos navios de guerra portugueses do séc. XV e XVI: a caravela. Como esta espécie é muito comum em Portugal os britânicos batizaram-na de Portuguese man o’ war (caravela), tal como o navio. Aliás, em várias línguas esta espécie é conhecida pela combinação da palavra Portugal e o nome do navio caravela. Por exemplo, Carabela, Caravella, Galère, Galeere, Oorlogschip, Orlogsmand, Örlogsman, Gálya.
O que deve fazer se for picado por uma caravela portuguesa?
No caso de ser picado por uma caravela portuguesa é recomendado lavar a ferida com água salgada e colocar vinagre. O propósito do vinagre é ajudar a estancar a descarga de veneno para o corpo da pessoa afetada.

O que NÃO deve fazer?
Não se deve, em circunstância alguma, colocar álcool, água doce, nem pressionar com uma compressa a zona afetada. Isto acelera o processo da passagem do veneno para a corrente sanguínea.
Pode ser perigoso?
No caso de a pessoa picada possuir alergias é necessário cuidado redobrado e com atenção a qualquer sinal de reação alérgica.
Caso não passe a dor ou se veja o mínimo sinal de reação alérgica, dirija-se ao posto de saúde mais próximo. Apesar das caravelas possuírem um veneno muito poderoso e doloroso, é raro este ser letal para os humanos.
A picada de caravela pode provocar queimaduras até terceiro grau tal como alguns dos seguintes sintomas:
- Dor intensa e instantânea;
- Sintomas gastrointestinais (dor abdominal, náuseas e vómitos);
- Espasmos musculares;
- Dor de cabeça;
- Sonolência;
- Desmaios;
- Perturbações cardiorrespiratórias.
Se encontrar morta na praia… posso tocar?

As caravelas portuguesas são perigosas e mesmo depois de mortas podem picar e transmitir o seu veneno. É por isto necessário respeitar os alertas nas zonas balneares e ter atenção redobrada quando for época de caravelas, evitando assim ser picado por uma. Aqui está uma experiência que não recomendamos a ninguém! Quando estiver a nadar tenha sempre cuidado, pois por vezes é possível confundir uma caravela com um saco a flutuar.
As caravelas têm predadores naturais?
Algumas espécies vêem a caravela portuguesa como alimento. Uma dessas espécies é frequentemente observada nos Açores: a tartaruga comum que por ter a pele rija torna-se imune à toxina presente nos tentáculos da caravela portuguesa. Outra espécie que também se alimenta de caravelas é o peixe-lua.

Onde se pode encontrar a caravela portuguesa?
É comum encontrar caravelas portuguesas em águas temperadas subtropicais e tropicais. No entanto, como esta espécie segue as correntes, já foi encontrada no Oceano Pacífico, Oceano Índico, Mar das Caraíbas, Mar dos Sargaços, para além do Oceano Atlântico.
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São muito bonitas e coloridas mas… para uma estadia sem sustos esteja sempre alerta, principalmente na primavera e no início do verão quando estiver a nadar no oceano.